quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Pequenas Reflexões antes de começar uma aventura com crianças

O RPG, como jogo de contar histórias e interpretar papeis é uma atividade que pode ser conduzida, dadas as devidas adaptações, com grupos de virtualmente qualquer idade. Quando lidamos com crianças, no entanto, é importante que saibamos transmitir esse universo, histórias e personagens respeitando a capacidade cognitiva das mesmas, e também seus interesses. 

Pais que desejem conduzir essa experiência com seus filhos (ou mesmo sobrinhos, netos...) terão no RPG uma forma preciosa de passar tempo de qualidade com suas crianças, desenvolver vínculos, criar memórias e se divertir. Mais do que isso, terá uma oportunidade de ensinar lições de vida sobre valores como amizade, lealdade, causa e consequência, altruísmo e a importância do esforço conjunto para se conseguir algo. Em próximos pergaminhos, conversaremos sobre como o RPG pode ser usado para trabalhar valores morais, como criar uma ambientação adequada e como lidar com a questão da violência. Mas neste primeiro momento, acho importante destacar cinco pontos importantes, que devemos ter em mente antes de começar essa jornada com nossos pequenos:

1) QUEM ESTÁ BRINCANDO COM QUEM: Devemos nos lembrar que nós estamos brincando com as crianças, e não elas brincando conosco. Em outras palavras, não estamos jogando com nossos filhos para matar nossa saudade do RPG ou reviver os “velhos tempos”. Estamos fazendo isso para passar mais tempo com elas, nos divertirmos juntos e ensinarmos valores importantes.

2) USO DE TECNOLOGIA: As crianças de hoje são expostas desde muito cedo à tecnologia, celulares e aparelhos afim. Elas estão familiarizadas com essa realidade, mas ela não é, de modo algum, positiva para elas. Dessa forma, use o máximo de “papel” possível. Imprima imagens, cenários, ilustrações de personagem e o que mais achar interessante. Mas não utilize telas. Será uma “vitória adicional” se esse tempo de jogo puder manter as crianças (e nós mesmos) longe de tecnologia. Muitas vezes, os caminhos antigos são os melhores, e este é um dos casos.

3) TEMPO DE JOGO: É muito benéfico para crianças desenvolver sua capacidade de concentração, mas há limites que devemos saber respeitar. Para crianças pequenas, de 7-10 anos, muitas vezes uma aventura de 20-30 minutos já é o suficiente para que se divirtam sem ficarem saturadas. Elas dando sinais de que desejam continuar, não há problema em estender o jogo mais um pouco. No quesito de horário, não recomendo partidas à noite, porque por mais cuidado que tenhamos, a agitação e as situações da aventura podem gerar pesadelos.

4) LIDANDO COM A FRUSTRAÇÃO: RPG é um jogo de superação de desafios. Crianças precisam aprender que por mais que as protejamos, a vida não é fácil e que em vários momentos, ou nos esforçamos muito, ou não obteremos sucesso. Por vezes, mesmo nos esforçando, ainda podemos falhar no final. A aventura de RPG não deve ser algo “frustrante” para a criança, mas deve ensiná-la que coisas importantes requerem trabalho para serem conquistadas. Quando o pequeno grupo se deparar com desafios, sejam relacionados a combates ou não (falaremos mais sobre isso em breve), é importante que sintam que conquistaram algo importante, e juntos. E no caso de falha, é interessante dar a eles uma segunda tentativa. Um exemplo simples: O grupo de aventureiros precisa recuperar os mantimentos de uma pequena aldeia, que foram roubados por um bando de goblins. Os aventureiros podem elaborar um plano para conseguir recuperar os alimentos (furtividade, combate puro ou qualquer outra coisa que pensem com uma pequena ajuda sua). Não force a situação para que ela dê certo. Se eles tiverem uma ideia ruim (acontece muito mesmo conosco), deixe que falhem e tentem novamente uma outra abordagem. Isso será uma experiência de crescimento muito valiosa para eles, e os farão valorizar mais o sucesso da missão.

5) USANDO NOMES DOS PERSONAGENS, NÃO JOGADORES: Muitas mesas de jogadores adultos adotam a regra de que quando o mestre narra um determinado acontecimento, ele usa somente o nome dos personagens, não dos jogadores. esta é uma prática muito importante em um jogo para crianças, porque as ajuda a se "separar" de seus personagens. Se o jovem Pedro criou o guerreiro Thorim, é interessante que nós como mestres descrevamos o que acontece com Thorim, e não com Pedro. Um exemplo simples: Em uma situação de combate, Thorim está lutando contra um esqueleto. Dizer: "O esqueleto atingu o braço de Thorim, mas depois, Thorim o golpeou com sua espada e o derrotou" é melhor do que "Pedro, o esqueleto atingiu o seu braço, mas depois, você acertou um ataque nele e o derrotou". Especialmente quando lidamos com crianças, é importante separar a realidade da fantasia. Além de ajudar a criar um clima mais interessante na narrativa, utilizar nomes de personagens ajuda a criança a se desassociar de sua criação, entendendo que ambos são indivíduos diferentes.

Como os mais velhos de nós bem sabem, não existe “receita de bolo” para uma boa aventura de RPG, e muito menos para entreter crianças. No entanto, levando em consideração os cinco pontos que levantei acima, nossa chance de conseguir passar um tempo bom e útil com nossos pequenos aumenta consideravelmente.

2 comentários:

  1. Tolo servo do Caos, é precisamente por causa do "amor" que seus cultistas estão espalhando que estou usando cada uma das últimas gotas de tempo que tenho para trabalhar esses temas aqui, mesmo que poucos leiam.

    Muitos são os pais que repudiam o que seus escravos corruptos têm feito com obras de fantasia e do universo infantil, e pode estar certo de que vocês todos cairão perante a luz da verdade e da moral. Seu rato chifrudo em breve cairá vítima de seus próprios ardis, e todas as novas "obras" que seus servos estão preparando, sem exceção, fracassarão. Não há poder no Abismo capaz de corromper uma criança devidamente educada e protegida pelos pais.

    (Entendo muito bem o que diz; aqui também eu assisto tudo (TUDO mesmo) antes de deixar minha filha assistir. ela gosta muito de programas de cozinha, e nem isso, por incrível que pareça, está seguro. Desenhos como Steven Universo e companhia, incluindo Hora da Aventura, Star contra as forças do mal e até a série animada de Rapunzel, não passarão nem perto dela ou da minha casa. Algo que eu educadamente discuto muito com psicólogos e pedagogos é a questão da violência nos desenhos. Apesar da violência em si ser algo ruim, muitas vezes ela é usada como pano de fundo para histórias com um fote cunho moral. Sim, Cavaleiros do Zodíaco é violento, mas o foco dele não está nisso, está na formação do caráter e construção de valores como amizade, lealdade, honra e perseverança. Coisas extremamente preciosas e necessárias a todo indivíduo. Nunca em minha vida presenciei crianças ou adolescentes espancando alguém por terem assistido a esse desenho, mas já vi vários casos de crianças se inspirando a ser algo melhor e a não desistir diante de problemas por causa do exemplo dado pelos cavaleiros de bronze.

    Os desenhos "populares" de hoje, que posam de "inofensivos" enquanto tentam relativizar a imoralidade, não ensinam absolutamente nada, mesmo não tendo violência alguma.

    Um que gostei muito e recomendo para assistir junto a crianças é Wingfeather Saga (https://www.angel.com/pt-BR/watch/wingfeather-saga). Trabalha muito bem a questão moral, importância da família e como manter a dignidade mesmo diante de um entorno totalmente tóxico. Vale à pena).

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    1. É simplesmente inacreditável que até aqui, em um blog tão pequeno, haja esse tipo de censura de comentários. Mas como você bem mencionou, estamos "acostumados" com esse absurdo, e sabemos como reagir de acordo.

      Também gostei muito de Wingfeather Saga, e fico feliz por ter ajudado com uma indicação (normalmente, é você quem passa a mim todas as boas indicações).

      Sobre os Cavaleiros, é exatamente isso. A violência não é a razão de ser da série, e nem o que motiva todos a lutarem. Ela é o preço que se paga por se lutar por aquilo que é bom e correto no mundo. Um sacrifício que almas realmente nobres fazem para proteger aquilo que amam. Interessante que é exatamente a posição de Tolkien sobre a guerra (ela deve acontecer quando um grande mal ameaça obliterar tudo, mas não se ama a guerra ou o poder para travá-la e sim aquilo que ela protege). Desnecessário dizer que você também está certo quando diz que é demais pedir para que certas pessoas/massas consigam compreender isso)...

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